quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Dora Bruder

Oi, queridos amigos! E mais uma vez aqui me encontro para expor um pouco o término da minha leitura.

''São pessoas que não deixam vestígios atrás de si. Praticamente anônimas. Não podemos separá-las de certas ruas de Paris, de certas paisagens de subúrbio, onde descobri, por acaso, que moraram. O que sabemos delas se resume, quase sempre, a um endereço apenas. E essa precisão topográfica contrasta com o que vamos ignorar para sempre de suas vidas - esse branco, esse bloco de desconhecimento e silêncio.''

A Leitura

O que tenho para dizer sobre essa obra pode e irá balançar vocês, essa é a certeza que carrego em meu ser. Não há como ignorar todo o empenho que Modiano manifestou ao construir este livro. Esse livro é chocante, emocionante, triste.
Quando iniciei a leitura sabia o que encontraria e confesso era isso mesmo que desejava, pois, sendo um professor de História me fascino em tentar descobrir como sociedades passadas viviam, e como se saíram num período de guerra, quando encontro um texto que se baseia em pessoa como é o caso desse, fico apreensivo, por que ao mesmo tempo que desejo saber o que aconteceu também temo em descobrir o que possa ter dado errado com a pessoa e sua família, e, sabendo que o conteúdo tem relação direta com o Holocausto, não posso negar minha fragilidade e tristeza.

O Livro: Dora Bruder

Esse livro trata-se de mais uma história real onde Patrick Modiano busca informações sobre a jovem Dora Bruder.
Um certo dia Modiano estava vasculhando o armário velho, quando se deparou com a notícia de um jornal do ano de 1941 que estampava a notícia do desaparecimento de Dora Bruder, uma menina que foi posta em um pensionato por seus pais.
A decisão de por a jovem no pensionato partiu, como um pretexto para protege-la dos alemães que naquele momento estavam enviando Judeus para campos de concentração.
A ideia do Sr. Ernesto Bruder era a de salva-la a todo custo desse destino cruel o qual estava muito perto de acontecer.
Com todas essas descobertas Modiano buscou cada vez mais tentar descobrir qual foi o verdadeiro destino de Dora Bruder e sua familia: Será que ela os encontrou? Por qual motivo ela fugiria? Seguindo pistas diversas Modiano trouxe à tona lembranças um tanto esquecidas, feridas abertas, ele viajou ao passado de Dora Bruder mas também o seu próprio, em muitos momentos de reflexão Modiano expõe sua relação com seu pai que viveu o mesmo problema da família Bruder ao ser preso pelos alemães... contudo, seu pai conseguiu a liberdade, no entanto, a relação com seu filho foi bastante conturbada.
Nesse ponto percebi que Modiano entrelaçou sua história com o da jovem Dora, como se ele próprio quisesse nos fazer compreender que a maldade não está somente nas ações humanas, como se nossas atitudes acionassem o gatilho para a infelicidade, um relacionamento que chega ao fim por temer encara-lo de frente.  
Por mais solícito que posso ser com Modiano, vejo e vi toda a frustração que ele e Dora vivenciaram e viveram ao longo da ocupação alemã. 
Todos os desaparecimentos são chocantes, ficamos perdidos, imaginando o que pode ter acontecido com os que sumiram, não apenas com Dora. Modiano nos fez reviver toda essa angústia em prol de tentar descobrir o paradeiro da jovem e de sua familia e assim compreender e reconstituir nossa existência com nosso destino. Ao buscar o destino de Dora em toda sua jornada, Patrick Modiano reviveu vidas que estavam esquecidas pelo tempo, e por mais que busquemos não aceitar essa condição de almas que se perderam na existência da vida, afinal sumiram sem deixar vestígios para trás, suas famílias não mais os virão, e nós com força tentamos reacender um pouco da esperança, foi isso que Modiano ofereceu e foi isso que ficamos sem. 


Essa foi uma leitura muito comovente, ela vem carregada com chagas de destruição, de medo, de paroxismo. Ao tentar imaginar o destino que todos tiveram, me vi perdido entre eles, sem saber ao certo como ajudar, como amenizar a dor da perca, como lutar diante de tanta barbárie desnecessária, aos poucos vou me recuperando, mas jamais serei curado por inteiro. Nossa existência é relativamente medíocre para que fiquemos a mercê de loucos com seus ideias desumanos, me sinto culpado e conivente com essas ações deliberadas, mesmo não vivendo naquele momento, pude sentir toda aflição e todo medo que passaram. 

Se você estiver lendo essa resenha desejo que saiba que essa leitura vale muito, muito mesmo!!

Informações básicas

Título: Dora Bruder

Autor: Patrick Modiano

Número de páginas : 137

Editora: Rocco

Gênero: Romance Francês


Um comentário:

  1. Puxa vida, Tom! Que leitura incrível! Adorei a resenha! Vou ler com certeza. Algum dia, pq no momento minha pilha de leituras já está no teto! Já sei oq vou fazer: vou atualizar meu skoob com suas indicações!

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